[Crítica de cinema] Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça (2016)

Crítica DÃO E DEMO

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(Vale a pena)
Batman v Superman: Dawn of Justice (2016) | Henry Cavill, Ben Affleck, Jesse Eisenberg | Realizado por Zack Snyder | 151 min.
Por: José Pedro Pinto
Senhoras e senhores, eis a atração principal da semana: incontornavelmente inferior a qualquer Batman de Christopher Nolan, mas largamente superior à deformidade kryptoniana que foi o Homem de Aço (2013) – filme, tal como este, realizado por Zack Snyder – chega-nos finalmente o grande combate entre Batman e Super-Homem (leia-se, os heróis mais lucrativos da Warner Bros). Quando se juntam dois colossos destes em combate, dois grandes lutadores universalmente amados, é garantido que se atrairá a atenção tanto de fãs hardcore como de fãs casuais, mas é preciso ter alguns cuidados: Antes de mais, se são ambos amados, quem é que deve ganhar? Depois, como manter a expectativa quando um dos combatentes pesa mais 20kg, tem mais 30cm de altura e 20cm de alcance de braços, e mesmo assim é mais veloz e tem mais resistência que o outro? E finalmente, como garantir que, independentemente do resultado, o verdadeiro vencedor seja o promotor do combate? Por responder de maneira satisfatória a todas estas questões, Batman vs Super-Homem é um triunfo de promoção de combates, um exemplo para Dana Whites e McMahons pelo mundo fora. Também se vê bem como filme.
Alguns anos depois dos eventos do Homem de Aço (2013), o mundo (isto é, a América) vê o Super-Homem como um semideus, uma entidade benigna para lá da regulação do homem – até que acontecimentos misteriosos no Norte de África (isto é, onde vivem os terroristas), nos quais o herói parece ser culpado da morte de vários inocentes, levantam questões sobre a impunidade das suas ações. É então organizado um comité, liderado pela Senadora Finch (Holly Hunter), com a intenção de dar ao governo o poder de regular a atividade do super-herói (tal como já vimos nos filmes da saga X-Men, da Fox, e como aparentemente iremos ver no Capitão América: Guerra Civil que sai daqui a um mês, da Marvel – que por sua vez incluirá o Homem-Aranha, adquirido há um ano num negócio com a Sony. Caramba.) Entretanto, em Metropolis, Lex Luthor (Jesse Eisenberg) propõe à Senadora que lhe sejam concedidas as autorizações necessárias para que possa desenvolver uma “arma de dissuasão” kryptoniana, como último recurso para controlar o Super-Homem. Não muito longe daí, na cidade vizinha de Gotham, Bruce Wayne (Ben Affleck) anseia pelo dia em que se possa vingar do maldito "herói" que causou a morte de milhares de inocentes durante os incidentes relatados no filme anterior – Homem de Aço (2013) – e depara-se acidentalmente com factos que parecem indiciar que a Warner Bros. também quer construir a sua mega-equipa de super-heróis, para poder competir com os Vingadores da Marvel e os X-Men da Fox (ao ritmo de dois filmes por ano, já marcados até 2020, segundo os últimos relatos).
A partir daqui há alguns SPOILERS. Se parece que me estou a concentrar demasiado na parte do negócio e pouco na parte da arte, é porque é essa a parte mais interessante deste filme: é um bom filme, sem dúvida, mas uma magnífica produção. Dá-nos um novo Batman, e o Ben Affleck convence-nos que é bom que chegue para aturarmos outra vez a cena da morte dos pais. Apresenta-nos um novo Lex Luthor, e o Jesse Eisenberg convence-nos que é um vilão à altura de qualquer herói. Apresenta-nos a Mulher Maravilha, e a postura física e expressões faciais de Gal Gadot convencem-nos que estamos perante uma verdadeira Amazona (pelo menos enquanto mantém a boca fechada), também muito graças a um certíssimo tema musical de Hans Zimmer e Junkie XL (sendo que este primeiro merece ainda mais aplausos por ter conseguido fazer uma banda sonora muito boa sem fazer lembrar o seu trabalho vastamente superior nos Batman’s de Nolan.) Esperemos que Gadot tenha tempo para trabalhar nessa parte até sair o seu Mulher Maravilha, anunciado para o verão de 2017. E como se não bastasse, o filme ainda tem tempo para nos apresentar, como afinal não podia deixar de ser, os heróis de Flash e Aquaman, filmes anunciados para 2018, guardando uns momentos finais para que o próprio Bruce Wayne possa vestir a pele de vendedor e anunciar descaradamente The Justice League: Part One (sim, “part one”), anunciado para o inverno de 2017.
Mas meter isto tudo num filme é fácil, difícil é fazê-lo como Batman vs Super-Homem o faz: de forma evidente que chegue para deixar a audiência disposta a comprar bilhete para os próximos filmes, mas invisível o suficiente para que não se intrometa na qualidade deste filme. E a qualidade é a que se exigia: se o Deadpool se destacava por conseguir saltar impercetivelmente entre o filme de super-heróis e a paródia de filme de super-heróis, Batman vs Super-Homem destaca-se por conseguir manter do início ao fim uma seriedade apocalíptica, e por conseguir dar ao embate entre os heróis o sentido grandioso que merecia. Deadpool é o melhor filme, sem dúvida, mas Batman vs Super-Homem é que é o main event.

Crítica DÃO E DEMO