As negociações do orçamento com Bruxelas e o desnorte do PSD

Opinião DÃO E DEMO
Assistimos na semana passada a declarações de dirigentes do PSD bem demonstrativas do elevado desnorte que atravessa o partido, emparedado entre a direita que tem sido e é e a social-democracia que de repente pretende vir a ser, mas que não cola na veste de Passos Coelho. Referimo-nos às declarações relativas às negociações que estavam em curso entre o Governo português e a Comissão Europeia.
De tudo foi dito: que era um Orçamento elaborado de forma incompetente, que não respeitava as regras e os tratados orçamentais europeus, que, em suma, iria ser devolvido para ser corrigido e, máxime, o ministro das Finanças teria que ser dispensado, pela inépcia demonstrada.
O mínimo que se exigia do PSD era algum recato quando Portugal estava a negociar com Bruxelas.
É que o que se passava, afinal, era tão só uma negociação internacional de Portugal, em que este Governo, ao invés do anterior, tinha ideias diferentes para o país, opções próprias para a economia, estratégias diferentes para a política e, sobretudo, outras escolhas que não exclusivamente a taxação do trabalho, sem incumprir os tratados.
E foi isto que António Costa e Mário Centeno defenderam em Bruxelas, com determinação, com verticalidade, e sem colocar Portugal de cerviz dobrada ante os eurocratas.
É bem verdade que houve acertos, que houve retoques, mas sobretudo, depois da acareação desenvolvida, quem acabou por ganhar foi uma outra visão da Europa e um outro olhar sobre a realidade. E o Orçamento, não sendo o éden, aí está, com o aval da Comissão Europeia.
E, não se concordando com a crítica do PSD quando o Governo de Portugal estava a negociar com Bruxelas, o que é facto é que o PSD com este seu comportamento, o que fez foi permitir que ressaltasse ainda mais a vitória de António Costa na Europa.
Afinal, o “adivinhado” suicídio à semelhança da Grécia e os fantasmas de novos resgates a caminho de Portugal caíram por terra. Precludiram à nascença.
Sim, todos sabemos que haverá impostos que vão aumentar, mas, sobretudo, todos muito bem sabemos que as opções diferentes tomadas vão permitir repor, desde logo, salários e apoios sociais.
E se o Orçamento de Estado que está na Assembleia para debate, tem alterações relativamente ao documento inicial, pois teve o crivo da Comissão Europeia, ele ainda assim tem uma marca indelével que é aquela que permite concluir que a política ainda vale a pena, nem que seja para tirar de um lado e colocar do outro, ou não seja isso, afinal, a política: uma repartição mais justa de sacrifícios e sobretudo que não sejam, precipuamente, os salários dos trabalhadores a acolitarem todos os desmandos dos governos, como aconteceu nestes últimos quatro anos em Portugal.

Acácio Pinto