Os 40 anos do 25 de abril em Sátão | Intervenção de Paula Cristina Cardoso, pelo PS

No dia 25 de abril de 2014 foi realizada, em Sátão, uma iniciativa com o objetivo de assinalar os 40 anos do 25 de abril de 1974, em que se registaram intervenções dos grupos parlamentares e dos presidentes da câmara e da assembleia municipal.
Pelo PS interveio Paula Cristina Cardoso, deputada municipal nascida, precisamente, em 1974.
É com especial agrado que aqui partilho alguns excertos da intervenção que a Paula Cardoso efetuou.
Ei-los:

«Quarenta anos são passados sobre o 25 de abril de 1974. Quarenta anos sobre o dia em que um punhado de militares, os capitães de abril, pôs cobro a um tempo negro da nossa história contemporânea, devolvendo aos portugueses a construção, em liberdade, do seu futuro coletivo.»

«Foram muitos, aqueles que aceitaram o desafio de lutar pela liberdade, pela igualdade de oportunidades, pela justiça e projetaram para Portugal um futuro melhor.
Foram muitos, aqueles que lutaram em prol da República, de um estado de direito democrático, da tolerância, da educação, da saúde, da cultura e da justiça social.
Não somos demais, hoje, todos, para lutar pelo aprofundamento de todas as conquistas que abril nos deu, todos as portas que abril abriu.»

«Os mais elementares direitos humanos passaram a ter consagração plena nos nossos textos fundamentais. Os direitos e as liberdades passaram a ser indistintos da raça, da cor, do sexo, da língua, da religião ou da opinião política.»

«Os partos, esses, cerca de metade aconteciam em casa, muitos deles sem qualquer assistência médica, com nefastas consequências, tantas vezes, para filhos e mães. É que nem as maternidades nem os centros de saúde estavam distribuídos pelo território e as acessibilidades não existiam.»

«E se eu vivi o 25 de abril de 74 numa situação de proteção, no útero materno, posso afirmar que para a minha mãe e para as inúmeras mulheres de Portugal, que sentiram as opressões anteriores a abril de 74, aquela foi de facto uma grande vitória, uma data marcante.
Como mulher nascida em 1974, poucos meses após o dia 25 de abril, quero, pois, manifestar o meu público agradecimento a todos quantos deram corpo à revolução de abril, a todos aqueles que nos devolveram a liberdade, a todos quantos consagraram os mais elementares direitos de cidadania.»

«Não permitir que essa herança de abril, que esses direitos sejam postos em causa é o nosso desafio, hoje, aqui e agora.
Não podemos permitir que esta crise, de raízes essencialmente especulativas e financeiras, se transforme numa crise económica e social que atinja, sobretudo, os mais frágeis e coloque em causa a dignidade das pessoas.»

«É por isso que o legado do estado social tem que ser um pilar central de todo o nosso pensamento, da nossa ação política.
A acessibilidade ao serviço nacional de saúde, à escola pública, à segurança social, à justiça, à habitação e o combate à pobreza não podem nunca sair da nossa agenda.
Se há combates que valem a pena são estes combates, são aqueles que promovem a redução do fosso entre os mais ricos e os mais pobres; são aqueles combates que visam proporcionar o acesso à formação e à qualificação dos portugueses; são aqueles que vão no sentido de disseminar os avanços tecnológicos por todos os portugueses; são aqueles que proporcionam uma vida saudável de bem-estar a todos.
Mas, também, nunca poderemos compactuar com os ataques, e têm sido tantos, que têm sido feitos ao interior. Temos que dizer bem alto que não estamos disponíveis para que o centralismo nos continue a subtrair serviços, a retirar repartições, a sonegar o acesso a tantos e tantos bens para os quais também contribuímos com os nossos impostos.
E não seremos só nós, os do interior, a ganhar com esta alteração de paradigma, será todo o território, pois aumentará a coesão territorial.»

«Temos, urgentemente, que colocar as pessoas no centro das nossas iniciativas, das nossas ações, da nossa política, seja na Europa, seja em Portugal, seja a nível central, seja a nível local.
E cada um de nós, instituições públicas ou privadas, administração central ou autarquias locais, deve ser um agente, um voluntário, ao serviço deste objetivo. Ao serviço de uma agenda de crescimento e emprego, por forma a travar a saga da emigração que nos assola a níveis igualmente dramáticos aos dos aos 60 do século XX. A diferença é que neste momento não emigram “a salto”, mas emigram a soldo de políticas agressivas do emprego e dos direitos laborais das populações.»

«Temos de ter esperança e acreditar no futuro de Portugal, com a certeza de que a esperança mora nas mãos de cada um de nós.»