Entrevista à Gazeta de Sátão, de Março, sobre estudo da UBI
Vasco Rodrigues, colaborador da Gazeta de Sátão, natural da freguesia de Ferreira de Aves, empresário no ramo da restauração, em Lisboa, efetuou um trabalho para a Gazeta de Sátão sobre o estudo da Universidade da Beira Interior para avaliar a qualidade de vida nos municípios portugueses resultando daí que o Sátão se encontra na posição 302, entre 308, e é mesmo o último do distrito de Viseu.
O trabalho de Vasco Rodrigues constou das mesmas sete perguntas a mim próprio, ao presidente da câmara de Sátão, Alexandre Vaz e ao presidente da ANMP, Fernando Ruas.
Todo o trabalho na edição em papel de Março.
Eis as minhas respostas.
1.
O recente Indicador Concelhio de
Desenvolvimento Económico e Social de Portugal (ICDESP) “atirou” com o Sátão
para um modestíssimo 302º. lugar, entre os 308 concelhos nacionais. Ficou
surpreendido com o resultado?
Resposta:
Fiquei surpreendido com o lugar que o Sátão ocupa uma vez que isso é revelador
de que o concelho se deixou arrastar para uma posição muito desconfortável e
nada invejável quando cotejado com os municípios envolventes e com os municípios
nacionais. Ser o último do distrito num estudo que visa analisar os indicadores
económicos e sociais não é propriamente uma boa notícia.
Porém,
não desesperemos pois os estudos não são um fim nem uma fatalidade em si
próprios. Merecem é uma adequada ponderação.
2.
Do seu ponto de vista, aquela classificação
reflecte a realidade atual do concelho?
R:
A ideia que tinha, meramente empírica, era de que nestas áreas algo estava a
correr mal no concelho, porquanto o dinamismo económico e a criação de emprego
era e é inexistente. Não se vislumbra uma estratégia, um plano, uma ação, um
estímulo no setor da economia local. Os bons exemplos são, infelizmente,
poucos. Estamos mesmo a assistir a um surto de emigração da população do nosso
concelho, sobretudo dos mais jovens.
3.
Em 2009, um estudo idêntico deixou o
Sátão no lugar 238 do “ranking”. Que razões poderão justificar uma descida tão
significativa em apenas três anos?
R:
Tendo por base que nos dois estudos foram avaliados os mesmos indicadores, só
podem ter acontecido duas coisas em separado ou em simultâneo e que são
concorrentes para este resultado: que o Sátão não efetuou apostas consistentes nas
áreas económicas e sociais e que os concelhos que estavam atrás foram alvo de
mais e melhores investimentos nas vertentes em apreciação.
4.
O trabalho tem a chancela de uma
instituição de Ensino Superior (UBI - Universidade da Beira Interior),
especializada neste tipo de trabalhos científicos com base em dados objectivos
(do INE) e foi coordenado por um consagrado professor catedrático (José Pires
Manso). Mas, a par do rigor e da metodologia, há sempre alguma subjectividade
nestes estudos. Poderá ela ter influenciado, até mesmo ter sido determinante na
classificação?
R:
Não vou perder-me em considerações metodológicas relativamente ao estudo sendo
que é bem verdade que se as variáveis fossem outras os resultados também
poderiam ser diferentes, porém nunca diametralmente opostos. Isto para dizer que
o autor com certeza que utilizou os indicadores que as teorias e a doutrina
aconselham nesta matéria. Se o não tivesse feito, o que não acredito, algo
estaria mal.
5.
Valendo o que vale, considera, no
entanto, que o estudo pode ser um instrumento útil para uma reflexão política
dos responsáveis satanenses e uma eventual mudança de políticas?
R:
Todos os estudos são importantes e úteis e merecem uma detalhada análise por
parte dos responsáveis políticos concelhios para se tirarem conclusões sobre o
processo de desenvolvimento no nosso território por forma a afinarmos ou
alterarmos a estratégia. Seria muito mau se tal não acontecesse.
Perante
um problema o pior que podemos fazer é varrê-lo para debaixo do tapete.
6.
Subscreve a conclusão do estudo de que
o País funciona a “três velocidades”?
R:
Porventura a mais do que três velocidades. E então o interior, em que nos
inserimos, esse não tem estado em velocidade nenhuma, mas antes em “marcha
atrás. Acabaram com os incentivos fiscais para as empresas, estão a criar
dificuldades na acessibilidade à saúde, introduziram as portagens para todos
terminando com as isenções para os residentes, “fecharam” freguesias, querem
extinguir tribunais, fala-se no encerramento de repartições de finanças… Enfim,
querem proscrever as populações do interior e transformar ¾ do território em
áreas desabitadas com as péssimas consequências que daí advirão para todos e,
sobremaneira, para os do litoral.
7.
O que pode e deve ser feito para
acabar, ou, pelo menos, minimizar, estas assimetrias?
R:
Na pergunta anterior, a contrario sensu, já se vislumbra muito daquilo que tem
vindo a ser feito nestes últimos anos, nomeadamente por este governo, e que
está errado.
Portanto,
só com políticas ativas de apoio às empresas e empresários que se queiram fixar
no interior, com apostas na manutenção dos serviços públicos, com a criação de redes
de divulgação e apoio cultural, com incentivos à criação do próprio emprego,
com apostas nas áreas agrícolas e na fileira florestal, com a dinamização do
setor do turismo residencial, de natureza, ecoturismo caminharíamos no bom
sentido. Era também fundamental criar eventos económicos e sociais, dar
formação e qualificação às pessoas e fazer das instituições autárquicas
plataformas facilitadoras da vida dos cidadãos.
Para
além disso, no caso do Sátão, é elementar que seja feita uma aposta séria e a
sério e que já anda há décadas a ser discutida sem que os sucessivos poderes,
sempre da mesma matiz, a tenham conseguido operacionalizar. Trata-se da criação
de uma área empresarial, de negócios, bem dimensionada, que pudesse aproveitar
a escassa distância que estamos da A25 e da A24 e que a futura nova ligação de
Sátão a Viseu potenciaria, lamentando-se o facto de este governo não estar a
conferir a esta nova acessibilidade qualquer prioridade.