[opinião] Preconceitos ideológicos no relatório do FMI sobre educação


Subscrevi, conjuntamente, com outros deputados do PS, um pedido ao governo para disponibilização dos documentos que sustentam o relatório do FMI, encomendado pelo governo, em que se cortam, permanentemente, quatro mil milhões de euros nas funções sociais do estado, nomeadamente, na educação, saúde e segurança social.
Este pedido faz todo o sentido face aos resultados apresentados no relatório uma vez que os mesmos não correspondem às evidências que tínhamos e temos nos mais diversos indicadores, neste caso da educação.
Ora vamos a factos em dois dos muitos aspetos referenciados no relatório sobre educação.
1. O relatório considera que Portugal apresenta resultados mais negativos do que os restantes países da UE e diz que o ensino público português é ineficiente.
Sobre estes aspetos há duas questões que importa já clarificar: i) Não alocámos em 2010, à educação, 6,2% do PIB como se refere no relatório, mas sim 5%, quando a média da UE é de 5,5% e no corrente ano de 2013 só disponibilizaremos 3,8% do PIB, valor nem sequer referido no documento; ii) Este relatório, pasme-se, não se refere (porquê?) aos recentes resultados alcançados pelos alunos portugueses no TIMSS e no PIRLS, em que Portugal foi o país que mais progrediu na matemática e o segundo nas ciências e que até ficou à frente de países que alocam mais percentagem do PIB, do que Portugal, à educação.
Ou seja, estes senhores, com a conivência do Governo, só veem os números que querem para concluírem o que já tinham como previamente adquirido.
Intelectual e politicamente desonesto.
2. O relatório diz que o custo por aluno nas escolas privadas é inferior ao das públicas.
Também duas notas sobre o que precede: i) Uma para dizer que estamos perante uma declaração que não cita tudo quanto foi produzido sobre este assunto, pois o estudo de um grupo de trabalho encomendado pelo próprio ministério é ardilosamente escamoteado pois nele se diz que 80% das turmas contratualizadas pelo estado aos privados custam mais, cerca de, 15.000 euros do que as públicas; ii) acrescente-se ainda o facto de as turmas do privado terem, em média, maior número de alunos o que representa uma redução do custo por aluno.
Ou seja, estamos perante um relatório manipulado, feito com base em preconceitos ideológicos e que omite, propositadamente, dados da realidade.
Um último dado para fechar: a média das despesas sociais na zona euro é de 21% do PIB, quando em Portugal representam, apenas, 19%.
Em que ficamos?
Acácio Pinto