[opinião] Assassinato do interior!


Não, não se trata de eutanásia, nem sequer de suicídio. Trata-se, com certeza de morte, mas de um assassínio, doloso, provocado pelos governantes, pelos centralistas, alguns serôdios, que, chegados junto à estátua de d. José, se acharam investidos de todos os poderes, mesmo dos mais sórdidos.
 E vai daí toca a cortar cegamente. Cegamente em tudo quanto pudesse ter menos voz e pudesse ser menos reivindicativo, para transferir para os ventres obesos de ganância, presunção e pedantismo. E a opção foi: mate-se o interior.
E o que se lamenta, profundamente, é que este assassinato seja perpetrado por muitos governantes que mal passaram a serra do Bussaco se sentiram “napoleónicos” centralistas, tentando, depois, vender-nos candidamente a alvura das suas setas envenenadas.
Mas vamos a factos.
A universalização do pagamento de portagens para todos quantos circulam nas autoestradas (ex-scut) no caso de Viseu, A24 e A25, é inadmissível pelo impacto negativo que gera na economia da região e do interior. É, objetivamente, mais um imposto, nada encapotado, para aqueles que teimam em aqui viver e querem aqui ser felizes. As empresas e as pessoas mereciam muito mais atenção.
Esta é a demonstração inequívoca de que a saga do PSD pela implementação “custe o que custar” do princípio do utilizador pagador tinha que ir avante. Foi isso que quiseram fazer desde o início. Só a teimosia, na altura, do governo socialista minoritário impediu isso e impôs, pelo menos, as isenções e os descontos que agora terminaram.
E os efeitos estão à vista. Face à inexistência de vias alternativas e face ao baixo rendimento per capita da região, únicos elementos, se existentes, que deveriam conduzir às portagens, as empresas equacionam a deslocação para o estrangeiro, algumas com centenas de camiões, e as pessoas estão em insolvência.
Onde estão, agora, as moções das assembleias municipais e das comunidades intermunicipais a reclamar a isenção de portagens? Onde estão esses arautos subscritores dessas moções? Onde andam? Será que estão no governo? Será que andam em gabinetes governamentais? Quem tem, afinal, amnésia? Quem são afinal os necrófagos?
Será que eles conhecem o número de desempregados no distrito? Será que sabem que as pequenas e médias empresas pagam os juros mais caros da europa? Será que sabem o preço dos combustíveis ou eles metem com cartão frota do governo? Será que sabem quantas empresas estão a fechar por dia? E quantos jovens emigram?
Nota final: Os membros do governo que pontificam na economia e nos transportes são de Viseu. Se a sua obrigação é conhecerem e governarem todo o país, a verdade é que não se deveriam ter esquecido nem do país, nem do interior.
Acácio Pinto
Jornal do Douro