Conferências da Rádio Escuro: em torno da atmosfera e da astronomia

A rádio Escuro continua a trilhar uma sadia linha de inconformismo: a de lutar por causas que parecendo não estar na ordem do dia, são elas próprias o dia-a-dia. Ao trazer ‘a atmosfera e a astronomia’ para a discussão, a rádio Escuro o que está a fazer é a defesa do interior, a defesa da sustentabilidade, a defesa do "escuro" (que dá o nome à rádio) nestes tempos de claridade consumista e dos mercados que nos trouxeram até aqui, até esta crise irracional por causa desses obscuros abdómenes da ganância.
Chamar os cientistas, ouvir os investigadores e trazê-los a Barrelas, a estas terras suculentas de Aquilino e da Beira, faz sentido e faz toda a diferença. Estas iniciativas são elementos para que as consciências se escutem no silencioso escuro da noite e concluam o que entenderem, mas porventura concluam que a felicidade está muito aquém desse "além" que tem sido a ganância de alguns pelo dinheiro, custe o que custar.
Tudo se passou no dia 15 de setembro em Vila Nova de Paiva, no parque botânico ‘Arbutus do Demo’. Uma sessão matinal no auditório, com os conferencistas convidados seguida de debate, e um almoço ao ar livre na magnífica sombra dos cedros, dos liquidâmbares ou das sequoias, estas mais abaixo, no parque ‘Arbutus do Demo’, preencheram a parte da manhã, para à tarde se efetuar uma incursão no rio Paiva, da truta, com a Nave ali ao lado, tão ávidos de respeito, pelo seu ecossistema milenar.
E que melhor fecho? Foi com chave de ouro. Foi com a astronomia. Noite dentro, noite escura, olhos ao céu. É que esses nossos companheiros de viagem, os astros, não se mostram a todos. Escondem-se da claridade do consumismo energético para só se darem inteiramente no escuro, não nestas trevas d'agora!!!, mas neste escuro de Barrelas e da Beira, neste interior de Portugal, teimosamente desrespeitado por governantes que, muitos, cedo esquecem as suas origens do maciço antigo, trocando-o, em perda, por esse terreiro híper-céfalo nessa sedimentar bacia do Tejo e do Sado, sem culpas para a geomorfologia, diga-se. Foi bom o diálogo. Aquele dialogar com este e mais aquele astro nas mais extravagantes órbitas, nesses territórios de infinito.
Como impulsionador deste evento o Amadeu Araújo, diretor da rádio Escuro, merece ser saudado e ajudado a prosseguir esta saga cheia de escolhos, os mais inimagináveis, em cada esquina.
Como presenças deixo aqui os nomes mais institucionais para não cair no esquecimento de nenhum dos presentes, que são um bom fermento para esta caminhada que merece ser trilhada: os presidentes da câmara de Vila Nova de Paiva, José Morgado, e da Assembleia Municipal, Paulo Marques, os vereadores, para além dos representantes das empresas que apoiaram o evento. Destaco ainda, genericamente, a presença de um excelente lote de jornalistas, investigadores, professores, jovens da região, enfim, pessoas amantes da aprendizagem permanente e reféns da esperança de mundo melhor.
Lá estive e sempre estarei, também, nesta linha inconformista: lutar por estas causas que parecendo não estar na ordem do dia são elas próprias o dia-a-dia.
Presidente da câmara a preparar-se para ver as estrelas!