[opinião] A austeridade não tem que ser exigida sempre aos mesmos!


O desespero está instalado na sociedade portuguesa. As famílias, as pessoas, estão a atravessar dias negros nas suas vidas. Porém, é certo que todas elas têm esperança num futuro melhor. E ter esperança é acreditar em pessoas. Nas pessoas que ao nosso lado possam ser inspiradoras e trazer consigo um projeto alternativo para a nossa terra, para a nossa cidade, para o nosso país. Para o nosso mundo.
Bem sei que começa a estar incrustada, no nosso viver, uma certa ideia de que são todos iguais. Todos se pautam por estes mesmos valores (para muitos como eu, não-valores) de um mercado desregulado, de uma obediência acrítica aos comandos de uns quantos rostos negros escondidos por detrás de uma ganância selvagem de multiplicação do capital. De um exacerbado querer de crescimento eterno. Nem que necessário seja repisar os mínimos da dignidade humana a nível do mercado de trabalho.
Porém, não são todos iguais. Não somos todos iguais. Há diferenças, e muitas, na visão que cada um tem do mundo e na organização do dia-a-dia.
E a diferença traduz-se muitas vezes em pormenores do nosso quotidiano. Em medidas de política que sem nos apercebermos qualificam ou desqualificam o modo de vida de cada um de nós.
Vem isto a propósito dos resultados das políticas conservadoras com que em Portugal e na Europa temos estado a ser governados. Por exemplo, o fosso entre o ordenado mínimo (auferido por milhões de pessoas) e os ordenados máximos (auferido por milhares de iluminados) é escandaloso; a acessibilidade à justiça “qualificada”, de poucos milhares de bafejados, e a inacessibilidade, que se quer aumentar, aos tribunais por parte de milhões de cidadãos é chocante;… e que dizer da universalidade da educação que conquistámos, à elitização do ensino para que caminhamos? e do serviço nacional de saúde geral que implementámos, à saúde para alguns patrocinada por bancos e seguradoras? e da segurança social pública e sustentada, à segurança social privada e dos capitais de risco? e ainda mais: alguém nos consegue explicar da necessidade de existirem paraísos fiscais? locais onde se “lava” dinheiro? espaços onde se sumiram milhões de bpn’s e de outros?
Enfim… tudo isto são diferenças! E não nos iludamos com o canto da sereia. Com as ideias que nos “vendem” diariamente de que tem que ser. De que temos que aceitar perder estes e mais aqueles direitos. Não, o que temos é que estar muito atentos, informados e perceber que não há em nada na vida e muito menos na política caminhos de via única. Há sempre uma alternativa e essa muitas vezes faz toda a diferença e tem reflexos no nosso dia-a-dia.
Basta: O esforço não tem que ser exigido sempre aos mesmos!
in: Diário de Viseu